segunda-feira, 30 de junho de 2014

Pedaços

Vem cá,  deixa eu lhe fazer um cafuné e ler um conto do Bukowski.
Ou então deixe-me mergulhar em seu olhar infindo. E lhe dizer no silêncio as coisas mais lindas. Pois eu ainda tenho medo de lhe dizer.
Pois apesar de ser tresloucada de amor, meu gostar é devagarinho.
Deixe-me desejar desesperadamente a sua presença.
Deixe-me lhe carregar para qualquer lugar.
Não me deixe aqui. Me leve pra sair.  Me entorpeça de amor.
Não me deixe só.  Esperando ou me comunicando por falsas muralhas.
Fantasiosas sensações de proximidade me chateiam.
Meu peito avassalador desatina: quero você, aqui e agora.
Quero Beijos intergaláticos e profundos.
Quero me entregar perdidamente as sensações do querer.
Que pode mais importar?  Se eu quero você.

Para que depois eu possa sentir o nosso cheiro em meus cabelos, na minha pele,  na minha alma.  Logo após quando você se vai.  Já não sei qual é o seu cheiro. Já me esqueci do meu. Só me lembro de nossas peles.
Quero também desejar a todo instante os nossos risos e desentendimentos.
Eu amo você. Por tudo e por nada. Amo por ser assim. E por eu ser assim com você.  E por estarmos sendo assim. Não tenha medo da minha loucura.  E, se possível, entregue-me um pouco da sua.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Poema de fim de tarde

Foi perdendo paulatinamente o encanto,
a medida que fui me cansando de tantas coisas:
de pessoas
de hábitos
de gostos
Devo estar ficando velha.
Visivelmente mais ranzinza.
Menos amável e sorridente.
Sentindo mais dores no corpo e menos dores de coração.
Nem tanto me comove tanto como outrora.
Porém ainda continuo chorando com os mesmos romances 
e com as mesmas melodias.
Continuo gritando alto no escuro os mesmos versos roucos.
Ah, insanidade!
Lúcida insanidade do crescer.

Mas ainda sou criança.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

O amor lhe deixou besta

O amor lhe deixou besta. O amor está lhe deixando besta. Não adianta postergar a bestagem, ela sempre se instalará. Chaga crônica o bestar de amor.
Claro que certo incômodo instala-se em seus órgãos internos. Palpitações. Pupilas dilatadas. Mãos suando. Ansiedade irresistível. Reviro os olhos tentando lhe encontrar.
De repente vejo que, mesmo trabalhando até tarde da noite e tendo o dia cheio de atividades, mesmo assim, encontraria um espaço para nós. Acharia uma brecha para encaixar os seus sorrisos em meus lamentos. E para que a sua presença preenchesse todo o meu abismo.
A resposta tarda. Você também. Encontro uma pausa para lhe enviar uma doçura.
É. O amor está lhe deixando besta.
Tiro uma tarde para planejar e sonhar.
É. O amor está lhe deixando besta.
Amargor apodera-se de minha boca na ausência da sua.
É. O amor está lhe deixando besta.
Conto detalhadamente sobre você aos amigos.
Caramba, como você está besta!
Refaço meus planos, meus pobres enganos. E você tarda.
Eu espero.
Afinal, o amor me deixou besta.