Os anos se passam. E esta história de sonhar torna-se um hábito. Um vício. Uma espécie de paixão doentia. Que vai enraizando-se de tal forma que torna-se uma extensão de sua vida.
Decepções e adversidades. É trabalhoso lidar com elas. Por vezes nos encontramos sem forças de recomeçar. E tristemente, nos acomodamos. Esse mundo de sonhos torna-se nosso mais leal companheiro. Você pode viver como desejar. Basta imaginar.
Creio que esta inclinação e irresistível atração pelo sonhar seja uma espécie de característica intrínseca. Mas confesso que durante anos vim cultivando-a. Era normal e por muito tempo eu não consegui enxergar o absurdo de tal conduta.
Refugiei-me em meu mundo. Covarde, evitei situações. Abdiquei de experiências necessárias. E negligenciei e afastei-me de tantas pessoas queridas. E dei um tanto de afeto a pessoas que não mereciam minha atenção. Fui intransigente e fiz felinos julgamentos de valor. Minha tolice era tamanha que não tive a capacidade de avaliar meus próprios atos. Eu estava irremediavelmente cega. Alienada por minha própria ignorância. Idealizei e permaneci no conforto de meu escapismo.
Mas um processo lento e gradativo vem ocorrendo. Não sei mensurar ao certo quando ele começou. Quanto mais o tempo passa mais eu percebo o quão pequena sou. O quanto tenho que aprender e evoluir. Como dizia o Guimarães Rosa "Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa". Dedico-me menos à tantas aspirações e vou tentando torná-las realidade. Não é fácil.
Sei apenas que estou vivendo uma parte bem feliz da minha vida.
Prudência, eu digo ao meu coração. Não crie tantas expectativas. Chega a ser um pouco de egoísmo exigir tanto de uma pessoa. Deixe fluir.
Eu tento, tento...hesito.
Parece que a hora de te ver nunca chegará. O relógio engatinha. Meu coração bate mais depressa e minhas mãos ficam geladas. Avalio minha imagem no espelho e não me acho sedutora. Existem tantas garotas bonitas e interessantes...
Maldita baixa auto-estima!
Maldita baixa auto-estima!
Em vão, listo mentalmente alguns assuntos interessantes para conversar. No fundo eu sei que corro o risco de sofrer de uma terrível amnésia e esquecer-me de tudo. Temo em ficar monossílaba. Ou falar demais. Parecer pedante. Parecer frívola. "Seja você mesma". É, eu tentarei .
Os pensamentos apoderam-se de mim. Incessantemente imagens e possibilidades ganham vida. E conscientemente ignoro toda esta reflexão vespertina.