terça-feira, 26 de julho de 2011

Secreto

Ficou tudo tão sem cor, depois que você se foi. Bem meu, você nem fez questão. De me chamar, ou telefonar. Desapareceu de repente. Mas eu pude notar. A falta que me faz. Queria te contar mais uma história e sonhar. Fazer planos, esquecer de tudo. Você foi uma das poucas pessoas que passaram em minha vida e naqueles momentos mais terríveis, conseguiu me acalmar .E por breves instantes, cessar minhas preocupações.
Mas querido, não somos de nós. É proibido. Não podemos quebrar as regras tantas vezes assim. Podemos apenas, sonhar. E acreditar, que um dia nos pertenceremos. Que poderemos sim, nos amar. Por hora é pecado. Tem que ser baixinho, sem pressa. Tem de ser um segredo nosso.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sem razões

A cada momento aumenta mais. Minha sóbria convicção de que nada sei. Já estou cansada, de sair por aí, sem rumo sem porquê. Não sei mais onde acharei estas respostas que a tanto tempo procuro. Tantas suposições . E mais algumas toneladas de ilusões.
Eu quis tanto seu sorriso. Estava disposta a qualquer coisa. Só que de repente, eu pude perceber. Eu não tinha que ficar procurando essas respostas. Elas sempre existiram, não precisavam ser descobertas. Era ridiculamente simples. O problema era que.  Eu enganava a mim mesma.
Por tanto tempo. Foi inusitado, mas eu sempre soube. Só estava adiando. Esquivando-me da verdade. Mas nada disso adiantaria. Uma hora eu teria que aceitar. E este momento chegou. Ainda desajeitada, em passos lentos. Precavida, tentando ao mesmo tempo manter-me atenta e por outro lado esquecer-me de tudo. Apenas sei que, desta vez. Não tenho a menor pretensão de acertar. E já vou deixando de ter pressa. Vou guiando-me mansamente, e que tudo aconteça como deverá ser.

Não sei quantas almas tenho


Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem  alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo :  "Fui  eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa 

domingo, 3 de julho de 2011

Querido amigo,

Creio que tenha demorado tempo demais para te escrever. Mas não é tarde, nunca será tarde ou em vão. Talvez você não compreenda mais, e talvez nem te interesse mais saber.
Fiquei esperando sua resposta por dias. Fiz-te esperar tanto, e você acabou por desistir de mim e não esperar-me mais. E não lhe culpo, pelo contrário, peço-te perdão. E que como aquelas tantas outras vezes passadas, consiga perdoar-me. Ou tente. É o meu único pedido.
 Quero também que saiba que estou estranhamente triste e sozinho. Queria muito conversar contigo, mais creio que não consiga mais me ouvir. E isso me dói tanto. Saber que te perdi, e que não mais terei sua amizade.
Um punhal abita em meu peito, e eu mesmo o cravei. Aos poucos, bem lentamente. Só que subitamente percebi. E não sabia mais o que fazer. Agora ele se tornou meu novo amigo, meu companheiro inseparável. Agradável ou não, ele está presente. Mas sempre, estou sozinho. Cercada por pessoas, queridas ou não, estou longe. Distante, perdido. Não sei mais em que direção seguir. E não sei mais o que fazer sem você aqui.
Creio que conheceu outras pessoas em sua viagem. E acredito que elas sejam mais alegres e agradáveis. Desculpo-me por não te procurar com boas notícias. Você sabe, as coisas andam amargando faz tempo, e boas novas acabaram tornando-se tão escassas. Queria mesmo, te procurar só pra falar do meu amor e carinho por você, da minha satisfação com a vida. E tornou-se inatingível.
Acabei me contentando com as migalhas. Não tive garra o suficiente para lutar. Refugiei-me em sonhos platônicos e ilusões. Fiz delas minha morada. Mas são tão instáveis. Desfazem-se rápido, e com medo de encarar mais uma vez a dor, fui construindo em seguida, por cima dos destroços das outras, mais algumas toneladas de irrealidades, e fui deixando levar-me.
Há dias acordei, e comecei a desfazer, pedaço por pedaço, todas as insanidades e incongruências. Mas foi tarde demais. As únicas concretas e certezas perderam-se no meio de tanta mentira. Não sei mais como proceder. E não terei mais você.
Espero do fundo de meu coração, que aproveite todas essas novidades que vem acontecendo em sua vida. Quero toda a beleza do mundo a você. Desejo apenas que não me esqueça.